Arquivo para agosto \28\-04:00 2011

Programação do módulo II

  • SÁBADO 13/08- Ferramentas digitais e tendências do uso das TIC’s na educação
  • SÁBADO 20/08- Arquivos on-line e compartilhamento de textos e informações (Google docs)
  • SÁBADO 27/08- Ferramentas de pesquisa on-line e acervos digitais (ferramentas wiki)
  • SÁBADO 03/09- Blogs, redes sociais e interação por meios digitais
  • SÁBADO 10/09- (tarde) Avaliação da primeira etapa do módulo II
  • SÁBADO 15/10- Utilização de ferramentas multimídia para o desenvolvimento de material pedagógico (primeira etapa: reconhecendo as ferramentas básicas)
  • SÁBADO 22/10- Utilização de ferramentas multimídia para o desenvolvimento de material pedagógico (segunda etapa: oficina de vídeos)
  • SÁBADO 29/10- Utilização de ferramentas multimídia para o desenvolvimento de material pedagógico (terceira etapa: oficina de vídeos)
  • SÁBADO 05/11- Bases e orientações para utilização pegadógica de jogos eletrônicos e realidade aumentada
  • SÁBADO 12/11- (Manhã) Apresentação das abordagens didáticas para o ensino da história da África com as TIC’s.

Videoaulas sobre Google Docs

Para esclarecer e relembrar, algumas viodeoaulas:

 

 

Google Grupos

Pessoal,

Para aprimorar ainda mais os nossos contatos, foi criada mais uma ferramenta digital, agora através do Google Grupos. Para participar, basta aceitar o convite que enviei para alguns e-mails ou entrar no website do grupo para poder efetuar o cadastro: https://groups.google.com/group/redhis?hl=pt

 O e-mail para o qual deve-se recorrer para enviar mensagem para o grupo (que todos os membros poderão ler) é este: redhis@googlegroups.com

Um blog para cada professor

Por Ricardo Neves
Revista Época – Junho/2007

O e-mail do leitor Stefanuto Rodrigues me traz suas inquietações: “Tenho lido matérias sobre criatividade, inovação e mudanças no mundo de hoje, mas fico sempre pensando: será que não estamos dando muita atenção a algo que já deveria ser corriqueiro em nossas vidas? Será que, quando observamos as mudanças e falamos delas como fenômenos, não deixamos de participar do que realmente está acontecendo, nos colocando em uma posição de quem vê de fora o ‘problema’, em vez de nos sentirmos parte dele?”.

Stefanuto tem razão. Penso que realmente a maioria das pessoas tende a se colocar fora do “problema”. Porém, além da passividade, existe uma tendência crescente e mundial das pessoas de se sentirem vitimas da realidade. Isso, em minha opinião, é muito mais grave. Abrem-se novas avenidas de transformações todas as vezes que assumimos a ousadia de nos tornar mais co-responsáveis pela solução dos “problemas” deixando de ser menos passivos e menos autovitimnados.

Vejamos o problema da incapacidade da escola em acertar o passo com a absorção do computador e da internet corno ferramentas de transformação da qualidade na educação. A digitalização de diversas áreas da atividade humana tem acontecido de forma assombrosa e positiva, mas a escola resiste. Ainda está mais para o tempo da palmatória que para o tempo da internet.

Podemos culpar apenas o sistema: governos e políticos deveriam roubar menos, ser mais eficientes e investir mais em educação. Isso é verdade. Infelizmente, não há solução satisfatória no curto prazo. Podemos propor o caminho das generosas boas intenções, como o projeto mundial “um laptop para cada criança”. Mas, de forma pragmática, penso que o foco certo, no lugar certo, é: o professor é quem precisa e pode acertar o passo em primeiro lugar.

Os professores, em especial os do ensino médio e sobretudo os de escolas particulares, onde estão os adolescentes que têm computador em casa, se sentem mal quando são confrontados com a intimidade e maestria de seus alunos com o novo mundo digital. Um amigo meu, professor do ensino médio, me confidenciou que, no fundo, a atitude da maioria de seus pares contra as ferramentas e os processos digitais do conhecimento traduz uma mistura de profunda má vontade, ressentimento e medo.

Professores e alunos são, na verdade, parte do problema e da solução. Ao ensino médio se dedicam no país pouco mais de 500 mil professores. Eles são responsáveis por 5 milhões de alunos adolescentes. Desses, na rede particular estão l milhão de estudantes e 116 mil professores.

No surpreendente Brasil já se pode comprar computador zero-quilômetro por menos de R$ 1.000. São vendidos 8,3 milhões deles anualmente e 22,1 milhões de brasileiros navegam no ciberespaço a partir da residência. Nas cidades, os custos de ter uma máquina e conseguir recursos e capacitação para ser proficiente em navegação na internet, incluindo criar um blog, são, convenhamos, modestos e acessíveis. Incluído aí o meio milhão de professores do ensino médio. Afinal, 481 mil destes têm diploma de curso superior.

Não se exclui a alternativa de transformar a política pública de educação, mas existe aí um desafio de atitude individual a tomar, caro professor. E não é proposta de revolução. Que tal se, antes de ter “um laptop para cada criança”, fôssemos, dentro de um par de anos, o primeiro país do mundo onde todo professor do ensino médio tivesse o próprio blog e fosse capaz de usá-lo como ferramenta de sua missão? Com a palavra, o professor.

Estudantes criam blogs para desenvolver a aprendizagem

A professora Elayne Stelmastchuk sempre apreciou as novas tecnologias usadas na educação. Quando elas chegaram à Escola Estadual Dr. Aloysio de Barros Tostes, em Nova Fátima, no norte do Paraná, Elayne procurou se atualizar para usá-las em sala de aula. Formada em ciências, com habilitação em matemática e pós-graduação em instrumentalização para o ensino de ciências, a professora mantém dois blogs e estimula a criação de outros pelos alunos. Ela acredita que a ferramenta contribui para melhorar o ensino-aprendizagem, de forma colaborativa e dinâmica.

Professora há mais de 20 anos, Elayne dá aulas de ciências e de matemática para turmas do sexto ao nono ano (quinta à oitava série) do ensino fundamental. O primeiro blog, criado em janeiro de 2010, aborda o tema ciências; o segundo, matemática. Ambos foram criados com os mesmos objetivos — proporcionar a inclusão digital dos alunos, melhorar o ensino-aprendizagem e expandir o espaço presencial de aprendizagem para o virtual.

A implementação do projeto de blog foi iniciada com os estudantes do sétimo ano. Interessados em participar, eles usaram o blog de ciências da professora para pesquisar, assistir a vídeos sobre assuntos estudados em sala de aula, enviar dúvidas e apresentar sugestões. “Como incentivo, sugeri que cada equipe construísse o próprio blog, dentro de uma temática de ciências. Assim, surgiram vários”, conta Elayne.

A professora usa os blogs durante as aulas no laboratório digital da escola e procura estimular os alunos a fazer pesquisas fora do espaço escolar. “O projeto contribuiu para a aprendizagem” revela. “Houve melhora significativa e, com ele, foi possível aos alunos ter outra visão sobre o uso da ferramenta, que para muitos era usada apenas para jogos.”

Elayne também abordou temas como os cuidados necessários e as regras de comportamento recomendadas para uso na internet.

Fátima Schenini para o portal do MEC

Confira os blogs:

• Blogando com Ciência
• Blogando com Matemática

“A geração de ‘nativos digitais’ é um mito”, segundo a pesquisadora australiana Sue Bennett

ENTREVISTA – SUE BENNETT

Revista Época, 18/03/2010

Sue Bennet

QUEM É – É diretora do Centro de Tecnologia em Educação da Universidade de Wollongong, na Austrália

O QUE FAZ – É uma das principais vozes céticas sobre o uso de novas tecnologias na educação. Já trabalhou nas universidades de Canberra, Central Queensland e Nacional da Austrália

Para a educadora australiana, é uma ilusão acreditar que os mais jovens têm intimidade inata com as novas tecnologias – e pensar assim pode prejudicar a educação

A geração nascida e criada na internet, a partir dos anos 80, é vista com interesse no mundo. São os chamados nativos digitais. Vários especialistas vêm afirmando que esses jovens, por seu convívio precoce com a tecnologia, têm poderes especiais, como capacidade criativa, jeito para aprender o novo e tolerância para realizar várias tarefas simultâneas. Como nossas escolas se adaptarão a eles? E como eles competirão no mercado de trabalho? Diante dessas questões, a educadora australiana Sue Bennett dá uma resposta surpreendente. Para ela, os nativos digitais não existem. Não passam de um estereótipo inútil.

ÉPOCA – Os nativos digitais – jovens nascidos depois de 1980 – são realmente diferentes?
Sue Bennett –
 A questão é que deve haver alguma diferença entre as gerações. Mas não é nada tão expressivo quanto tem sido dito por alguns especialistas ou em artigos publicados na mídia. Além disso, nessa geração, existe uma variabilidade muito grande no contato com as tecnologias. As diferenças dentro dessa geração são tão grandes quanto o que os distinguiria da geração dos mais velhos.

ÉPOCA – Faz sentido falar de uma geração de nativos digitais, então?
Bennett –
 Não acredito que esse rótulo tenha muita utilidade. Por que falar de um grupo específico da nova geração, com características semelhantes a outras pessoas de outra faixa etária? Cria a impressão de que todos os jovens têm uma intimidade inata com as tecnologias digitais. O que não é necessariamente verdade. Estudos recentes entre universitários australianos mostram que só 21% deles mantêm um blog e 24% usam redes sociais. Embora muitos usem uma vasta gama de tecnologias em sua rotina, existem claramente áreas em que a familiaridade com as ferramentas tecnológicas não é nada universal. Um estudo feito nos Estados Unidos com 4.374 estudantes de 13 instituições mostrou que a maioria tinha computadores pessoais e celulares. Mas só 12% deles tinham computadores de bolso. E uma minoria, cerca de 20%, já tinha criado conteúdo próprio para a internet.

ÉPOCA – De onde saiu essa expressão?
Bennett – Às vezes, observamos uma atividade, e aquilo parece muito novo para nós. E não reconhecemos que não passa de uma extensão de um comportamento prévio. Sem muita análise aprofundada naquele momento. Além disso, algumas pessoas ganharam fama ao defender esse tipo de ideia. E isso as incentivou a alimentar esse mito. É algo que soa bem. Vem de acordo com nosso senso comum, embora ninguém tenha investigado de verdade.

 ÉPOCA – Algumas pessoas propõem mudanças na educação para atender às necessidades dos nativos digitais. O que a senhora acha?
Bennett – Isso é um grande perigo. Se mudarmos as práticas nas escolas para incorporar essas tecnologias e atender os chamados nativos digitais, poderemos deixar a educação inacessível para a maioria dos jovens, que não está tão integrada ao mundo digital. Poderá agravar a situação dos estudantes deixados para trás. Nós ainda não sabemos exatamente se a tecnologia realmente melhora o desempenho dos alunos. Os estudos feitos até hoje mostram que os estudantes gostam dos computadores nas salas. Mas não está bem definido se eles melhoram o resultado. Na Austrália, o governo forneceu laptops a todos os estudantes no meio da high school (equivalente ao ensino médio), de 15 e 16 anos. Eles levam os computadores para casa.

 ÉPOCA – Por outro lado, como a lição que o professor dá no quadro-negro pode ser atraente para estudantes criados com o Facebook ou o Nintendo DS?
Bennett – Não podemos perder de vista o que queremos com a educação, embora, claro, o engajamento seja importante. Também não podemos ter uma imagem estereotipada do professor. A maioria deles consegue envolver os estudantes em atividades estimulantes usando os equipamentos tradicionais da escola. Independentemente da tecnologia, deveríamos investir em ajudar os professores a tornar o ensino mais interativo e provocante.

ÉPOCA – E no mundo profissional? A geração que nasceu com a internet tem mais habilidades do que os mais velhos?
Bennett – Aí certamente temos uma geração que é mais confiante no uso da tecnologia, que está mais disposta a aprender na base da tentativa e do erro. E isso faz diferença em um mundo onde as tarefas profissionais usam cada vez mais computadores e ferramentas que buscamos na internet e precisamos aprender a usar rapidamente. Por outro lado, embora eles entendam muito de computador, continuam sendo menos experientes em outras habilidades exigidas em cada profissão.

 ÉPOCA – Os profissionais mais velhos podem se manter atualizados com as novas tecnologias, assim como os jovens?
Bennett – De novo, estamos muito presos aos estereótipos. Quando pensamos no choque de gerações no trabalho, imaginamos homens de 60 anos comparados a jovens na faixa dos 20. Mas a maior parte das pessoas está nas idades intermediárias. Existem pessoas mais velhas que têm capacidade para aprender qualquer coisa. E também têm mais tempo e mais dinheiro para se dedicar a isso do que os jovens. O que acontece com frequência com esses profissionais mais velhos é que eles têm outras prioridades às quais dedicar sua energia. Enquanto você tiver saúde, conexão com o mundo e envolvimento com outras pessoas, terá meios para se atualizar com a tecnologia, sem limite de idade. Se estiver aposentado, até melhor, porque terá mais tempo para se dedicar a isso.

 ÉPOCA – Faz sentido imaginar que essa nova geração é mais capaz de executar várias tarefas ao mesmo tempo?
Bennett – Quando se fala em realizar várias coisas ao mesmo tempo, na verdade o que acontece é que ficamos pulando de uma tarefa para outra, com várias interrupções. Não estamos fazendo nada simultaneamente. Às vezes, é benéfico. Mas muitas vezes piora o resultado final. Por exemplo, quando você estuda algo, já está provado que consegue reter e compreender melhor aquilo se estiver bem focado.

“Enquanto você tiver saúde e envolvimento com outras pessoas, 
poderá se atualizar com a tecnologia sem limite de idade”

ÉPOCA – Alguns estudos mostram que os alunos têm menos visão crítica quando selecionam referências na internet. Como resolver isso?
Bennett – Primeiro, é importante saber que isso acontece. Depois, ser ativo e discutir com os alunos a importância de entender o contexto das informações e de procurar discernir o que são dados mais ou menos confiáveis. Mostrar que não dá para acreditar no primeiro link que o Google lhe dá. Em vários estudos com alunos da high school, se aquela tarefa não é muito importante para eles, ficam satisfeitos com informações colhidas rapidamente na internet, mesmo desconfiando que não sejam as mais confiáveis. Por outro lado, se é um trabalho mais decisivo para eles, então tomam mais cuidado na pesquisa. De certa forma, nós também fazemos isso sem a internet. Quando pesquiso em bibliotecas, posso pegar o primeiro livro que encontrar sobre um assunto ou tentar investigar mais, dependendo da circunstância. Essa capacidade para pesar quanto esforço você dedica a cada tarefa não é novidade da era digital. Há estudos que mostram como isso acontece há muito tempo com os estudantes. É da natureza humana.

ÉPOCA – Os campeões de digitação em teclado de celular têm todos menos de 15 anos. Essas habilidades farão diferença quando forem maiores?
Bennett – Lembra-se do cubo mágico dos anos 80? Alguns adolescentes montavam o cubo com rapidez incrível. Parecia que tinham habilidades mentais superiores e fariam diferença na sociedade. Acontece que eles simplesmente tinham mais tempo e interesse para praticar.

ÉPOCA – E as habilidades desenvolvidas pelos jovens nos games serão úteis na vida adulta?
Bennett – É uma suposição que não foi devidamente testada. Não sabemos se essas habilidades continuam eficientes em outro contexto.

ÉPOCA – A senhora, que nasceu antes da era da internet, acha que tem menos habilidade com tecnologia do que seus alunos?
Bennett – Eles têm muito mais acesso à tecnologia do que eu tive quando tinha aquela idade. Por outro lado, eu estaria perdida sem meu laptop. Escolho o tipo de tecnologia de que preciso em cada momento. Não é uma questão etária. Algumas pessoas de minha idade têm tanta intimidade com tecnologia quanto meus estudantes de 18 anos.

ÉPOCA – A senhora gostaria de ter algum conhecimento tecnológico que seus alunos têm?
Bennett – Espero que não.

Leia também: “No País, metade dos alunos não tem acesso a computador”
Assista:  

Slides e vídeos da primeira aula sobre TICs na educação

Aqui estão os slides da aula:

Alguns vídeos que complementam as informações da aula:

Ainda durante esta semana postarei mais informações e material útil para aprofundar a reflexão sobre usos de ferramentas tecnológicas na escola.


Professor sabe menos de computador que o aluno

Por Isis Brum – Jornal da Tarde

Os alunos sabem mais que os educadores sobre conteúdos digitais e ferramentas tecnológicas. No País, 64% dos professores admitem a defasagem sobre o uso do computador em relação a suas turmas, segundo dados da primeira edição da pesquisa TIC Educação, realizada pelo Centro de Estudos sobre Tecnologias da Informação e da Comunicação (Cetic.br), do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br). Divulgado nesta terça-feira, 9, o estudo pretende identificar o uso dos computadores e da internet nas escolas brasileiras e se o conteúdo aprendido se transforma em conhecimento. Foram entrevistados 1.541 professores, 4.987 alunos, 497 diretores e 428 coordenadores pedagógicos em 497 instituições de ensino da rede pública municipal e estadual. Conhecer o computador é um dos desafios para integrar as tecnologias da informação e da comunicação às atividades pedagógicas em sala de aula, de acordo com o estudo. A distância entre o professor e o equipamento pode ser percebida em sua desconfiança com relação ao conteúdo oferecido pela internet – 31% deles não confiam nos dados disponíveis na web. Outros 35% creem que os estudantes ficam sobrecarregados de informação e 31% pensam que os estudantes perdem o contato com a realidade.

Coordenador de pesquisas do Cetic.br, Juliano Cappi diz que o perfil do professor – que não é nativo digital e sua faixa etária varia de 31 anos a mais de 46 – ajuda a explicar porque a tecnologia ainda não é aplicada em sala de aula. “Mas há uma demanda reprimida, pois os professores compram seus computadores, pagam cursos e até levam seus equipamentos para a sala de aula”, aponta. “A capacitação do professor é fundamental”, comenta Jorge Werthein, vice-presidente da Sangari no Brasil e representante do escritório das Nações Unidas para a Educação no Brasil (Unesco) de 1996 até 2005. “O que ele está dizendo (neste estudo) é ‘eu não consigo usar esse instrumento porque não fui exposto à essa tecnologia quando criança ou na faculdade’”, interpreta Werthein. Gerente de Educação, Juventude e Cultura da Fundação Telefônica, Milada Gonçalves sugere que o educador deve tratar o estudante como um parceiro nesse processo “e não como alguém que o desafia a aprender mais para ensinar   depois”. Só livros e aula não estimulam a nova geração – Quase um terço dos professores acredita mais nos métodos tradicionais de ensino – uso de livro, pesquisa em biblioteca e aula expositiva – que no uso das tecnologias de informação e da comunicação para as práticas pedagógicas. Para os pesquisadores, o confinamento dos equipamentos em laboratórios (80% das atividades são realizadas neles) – e não integrados à sala de aula – é uma demonstração do desconhecimento do potencial do equipamento e da internet na sala de aula. Milada Gonçalves, da Fundação Telefônica, diz que o papel do educador, como mediador das informações disponíveis, é, entre outros, desenvolver nos seus alunos habilidades de pesquisa e seleção das informações, comunicação (como se comportar e se proteger na web) e autoria (publicação de conteúdos). “O professor tem de planejar suas atividades pensando que, hoje, a internet é o principal meio de comunicação e de relação entre pessoas”, observa. “Não é possível ensinar a geração do século 21 com métodos do século 19.”

Meu filho, você não merece nada

Por Eliane Brum – Revista Época

Ao conviver com os bem mais jovens, com aqueles que se tornaram adultos há pouco e com aqueles que estão tateando para virar gente grande, percebo que estamos diante da geração mais preparada – e, ao mesmo tempo, da mais despreparada. Preparada do ponto de vista das habilidades, despreparada porque não sabe lidar com frustrações. Preparada porque é capaz de usar as ferramentas da tecnologia, despreparada porque despreza o esforço. Preparada porque conhece o mundo em viagens protegidas, despreparada porque desconhece a fragilidade da matéria da vida. E por tudo isso sofre, sofre muito, porque foi ensinada a acreditar que nasceu com o patrimônio da felicidade. E não foi ensinada a criar a partir da dor.

Há uma geração de classe média que estudou em bons colégios, é fluente em outras línguas, viajou para o exterior e teve acesso à cultura e à tecnologia. Uma geração que teve muito mais do que seus pais. Ao mesmo tempo, cresceu com a ilusão de que a vida é fácil. Ou que já nascem prontos – bastaria apenas que o mundo reconhecesse a sua genialidade.

Tenho me deparado com jovens que esperam ter no mercado de trabalho uma continuação de suas casas – onde o chefe seria um pai ou uma mãe complacente, que tudo concede. Foram ensinados a pensar que merecem, seja lá o que for que queiram. E quando isso não acontece – porque obviamente não acontece – sentem-se traídos, revoltam-se com a “injustiça” e boa parte se emburra e desiste.
Como esses estreantes na vida adulta foram crianças e adolescentes que ganharam tudo, sem ter de lutar por quase nada de relevante, desconhecem que a vida é construção – e para conquistar um espaço no mundo é preciso ralar muito. Com ética e honestidade – e não a cotoveladas ou aos gritos. Como seus pais não conseguiram dizer, é o mundo que anuncia a eles uma nova não lá muito animadora: viver é para os insistentes.

Por que boa parte dessa nova geração é assim? Penso que este é um questionamento importante para quem está educando uma criança ou um adolescente hoje. Nossa época tem sido marcada pela ilusão de que a felicidade é uma espécie de direito. E tenho testemunhado a angústia de muitos pais para garantir que os filhos sejam “felizes”. Pais que fazem malabarismos para dar tudo aos filhos e protegê-los de todos os perrengues – sem esperar nenhuma responsabilização nem reciprocidade.

É como se os filhos nascessem e imediatamente os pais já se tornassem devedores. Para estes, frustrar os filhos é sinônimo de fracasso pessoal. Mas é possível uma vida sem frustrações? Não é importante que os filhos compreendam como parte do processo educativo duas premissas básicas do viver, a frustração e o esforço? Ou a falta e a busca, duas faces de um mesmo movimento? Existe alguém que viva sem se confrontar dia após dia com os limites tanto de sua condição humana como de suas capacidades individuais?

Nossa classe média parece desprezar o esforço. Prefere a genialidade. O valor está no dom, naquilo que já nasce pronto. Dizer que “fulano é esforçado” é quase uma ofensa. Ter de dar duro para conquistar algo parece já vir assinalado com o carimbo de perdedor. Bacana é o cara que não estudou, passou a noite na balada e foi aprovado no vestibular de Medicina. Este atesta a excelência dos genes de seus pais. Esforçar-se é, no máximo, coisa para os filhos da classe C, que ainda precisam assegurar seu lugar no país.

Da mesma forma que supostamente seria possível construir um lugar sem esforço, existe a crença não menos fantasiosa de que é possível viver sem sofrer. De que as dores inerentes a toda vida são uma anomalia e, como percebo em muitos jovens, uma espécie de traição ao futuro que deveria estar garantido. Pais e filhos têm pagado caro pela crença de que a felicidade é um direito. E a frustração um fracasso. Talvez aí esteja uma pista para compreender a geração do “eu mereço”.

Basta andar por esse mundo para testemunhar o rosto de espanto e de mágoa de jovens ao descobrir que a vida não é como os pais tinham lhes prometido. Expressão que logo muda para o emburramento. E o pior é que sofrem terrivelmente. Porque possuem muitas habilidades e ferramentas, mas não têm o menor preparo para lidar com a dor e as decepções. Nem imaginam que viver é também ter de aceitar limitações – e que ninguém, por mais brilhante que seja, consegue tudo o que quer.

A questão, como poderia formular o filósofo Garrincha, é: “Estes pais e estes filhos combinaram com a vida que seria fácil”? É no passar dos dias que a conta não fecha e o projeto construído sobre fumaça desaparece deixando nenhum chão. Ninguém descobre que viver é complicado quando cresce ou deveria crescer – este momento é apenas quando a condição humana, frágil e falha, começa a se explicitar no confronto com os muros da realidade. Desde sempre sofremos. E mais vamos sofrer se não temos espaço nem mesmo para falar da tristeza e da confusão.

Me parece que é isso que tem acontecido em muitas famílias por aí: se a felicidade é um imperativo, o item principal do pacote completo que os pais supostamente teriam de garantir aos filhos para serem considerados bem sucedidos, como falar de dor, de medo e da sensação de se sentir desencaixado? Não há espaço para nada que seja da vida, que pertença aos espasmos de crescer duvidando de seu lugar no mundo, porque isso seria um reconhecimento da falência do projeto familiar construído sobre a ilusão da felicidade e da completude.

Quando o que não pode ser dito vira sintoma – já que ninguém está disposto a escutar, porque escutar significaria rever escolhas e reconhecer equívocos – o mais fácil é calar. E não por acaso se cala com medicamentos e cada vez mais cedo o desconforto de crianças que não se comportam segundo o manual. Assim, a família pode tocar o cotidiano sem que ninguém precise olhar de verdade para ninguém dentro de casa.

Se os filhos têm o direito de ser felizes simplesmente porque existem – e aos pais caberia garantir esse direito – que tipo de relação pais e filhos podem ter? Como seria possível estabelecer um vínculo genuíno se o sofrimento, o medo e as dúvidas estão previamente fora dele? Se a relação está construída sobre uma ilusão, só é possível fingir.

Aos filhos cabe fingir felicidade – e, como não conseguem, passam a exigir cada vez mais de tudo, especialmente coisas materiais, já que estas são as mais fáceis de alcançar – e aos pais cabe fingir ter a possibilidade de garantir a felicidade, o que sabem intimamente que é uma mentira porque a sentem na própria pele dia após dia. É pelos objetos de consumo que a novela familiar tem se desenrolado, onde os pais fazem de conta que dão o que ninguém pode dar, e os filhos simulam receber o que só eles podem buscar. E por isso logo é preciso criar uma nova demanda para manter o jogo funcionando.

O resultado disso é pais e filhos angustiados, que vão conviver uma vida inteira, mas se desconhecem. E, portanto, estão perdendo uma grande chance. Todos sofrem muito nesse teatro de desencontros anunciados. E mais sofrem porque precisam fingir que existe uma vida em que se pode tudo. E acreditar que se pode tudo é o atalho mais rápido para alcançar não a frustração que move, mas aquela que paralisa.

Quando converso com esses jovens no parapeito da vida adulta, com suas imensas possibilidades e riscos tão grandiosos quanto, percebo que precisam muito de realidade. Com tudo o que a realidade é. Sim, assumir a narrativa da própria vida é para quem tem coragem. Não é complicado porque você vai ter competidores com habilidades iguais ou superiores a sua, mas porque se tornar aquilo que se é, buscar a própria voz, é escolher um percurso pontilhado de desvios e sem nenhuma certeza de chegada. É viver com dúvidas e ter de responder pelas próprias escolhas. Mas é nesse movimento que a gente vira gente grande.

Seria muito bacana que os pais de hoje entendessem que tão importante quanto uma boa escola ou um curso de línguas ou um Ipad é dizer de vez em quando: “Te vira, meu filho. Você sempre poderá contar comigo, mas essa briga é tua”. Assim como sentar para jantar e falar da vida como ela é: “Olha, meu dia foi difícil” ou “Estou com dúvidas, estou com medo, estou confuso” ou “Não sei o que fazer, mas estou tentando descobrir”. Porque fingir que está tudo bem e que tudo pode significa dizer ao seu filho que você não confia nele nem o respeita, já que o trata como um imbecil, incapaz de compreender a matéria da existência. É tão ruim quanto ligar a TV em volume alto o suficiente para que nada que ameace o frágil equilíbrio doméstico possa ser dito.

Agora, se os pais mentiram que a felicidade é um direito e seu filho merece tudo simplesmente por existir, paciência. De nada vai adiantar choramingar ou emburrar ao descobrir que vai ter de conquistar seu espaço no mundo sem nenhuma garantia. O melhor a fazer é ter a coragem de escolher. Seja a escolha de lutar pelo seu desejo – ou para descobri-lo –, seja a de abrir mão dele. E não culpar ninguém porque eventualmente não deu certo, porque com certeza vai dar errado muitas vezes. Ou transferir para o outro a responsabilidade pela sua desistência.

Crescer é compreender que o fato de a vida ser falta não a torna menor. Sim, a vida é insuficiente. Mas é o que temos. E é melhor não perder tempo se sentindo injustiçado porque um dia ela acaba.


agosto 2011
S T Q Q S S D
1234567
891011121314
15161718192021
22232425262728
293031  

Páginas

Posts recentes

Categorias

Para leitura dos arquivos de textos

Os textos em formato PDF são arquivos de leitura e a visualização requer a utilização de programa adequado. O soft mais popular e utilizado é o Acrobat Reader, que pode ser obtido ao clicar aqui.