Arquivo para fevereiro \19\-04:00 2011

Textos para a próxima aula (12 de março)

Como combinado, as aulas serão retomadas no dia 12 de março e até lá todos precisarão cumprir as leituras dos textos abaixo:

Slides – Navio Negreiro

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Pesquisa no site Slavery in America

Conforme recomendado na aula deste sábado, uma fonte de pesquisa interessante é o site Slavery in America (Escravidão na América), que é produzido originalmente em inglês e pode ser conferido no seguinte link: www.slaveryinamerica.org

TRADUÇÃO – Quem quiser conferir uma versão traduzida, acesse a partir deste link, mas a tradução pode apresentar falhas ou ser literal.

Para leitura de arquivos em formato PDF

Muitos dos artigos que serão postados aqui possuem formatação PDF, que é o formato de texto mais utilizado na internet. Os textos e demais documentos com esta formatação são para leitura e não para edição. Para utilizar textos em PDF é necessário dispor de programa próprio para este fim e o mais utilizado é o Acrobat Reader, que pode ser obtido clicando aqui.

Biografia de Baquaqua em versão PDF

O nosso colega José Alberto conseguiu o texto em formatação PDF, de melhor manuseio que a versão postada no blog anteriormente. Então postamos um novo arquivo para que todos possam salvar e ler.

Repostagem de texto

Caso alguém tenha tido dificuldade ao abrir o texto anteriormente postado para a aula do Prof. Marcus Carvalho do próximo sábado, eis uma nova postagem abaixo. Cheguei a testar o link anterior e não identifiquei erro, pois funcionou normalmente e o arquivo estava sem falha. De qualquer forma, o link abaixo está ligado a uma nova cópia do texto:

O ATLÂNTICO ESCRAVISTA: AÇÚCAR, ESCRAVOS E ENGENHOS

Qualquer dificuldade no acesso, comentem abaixo ou entrem em contato comigo: pauloalx@gmail.com

Tabela – Pontos de origens dos escravos

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Tabela – Tráfico de escravos para as Américas

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Cronograma e informações sobre os cursos da REDHIS

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Slides – Costumes suntuários

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Slides – A tecnologia da corda

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Biografia de Mahommah Baquaqua

O texto está disposto na forma de arquivos de imagem. Clique com o botão direito do mouse em cada imagem, escolha a opção “salvar imagem como”, guarde o arquivo na pasta de sua preferência e leia através de seu visualizador de imagens.

Leituras indicadas

Aqui estão os arquivos de textos para as nossas leituras. Os arquivos estão em formato PDF.

Jornada de Estudos Históricos

O Programa de Pós-Graduação em História da UFPE tem a grata satisfação de anunciar a Jornada de Estudos Históricos, a se realizar entre os dias 16 e 23 de fevereiro de 2011 no CFCH. Não haverá taxa de inscrição. A participação é livre.Contrariando uma tendência atual em eventos, nos quais os palestrantes têm poucos minutos para falar e menos ainda para discussão, estaremos recebendo um seleto grupo de pesquisadores renomados para proferir conferências mais longas, com discussão e debate ao final, permitindo assim uma melhor interação com os presentes.

Quarta-feira, 16/02/2011

Conferência de FLAVIO DOS SANTOS GOMES (UFRJ): “O Quilombo dos Palmares”, seguida de Mesa-Redonda com Scott Allen, Rômulo Xavier e Marcus J. M. de Carvalho sobre o mesmo assunto. Na ocasião será lançado o livro organizado pelo Conferencista: Mocambos de Palmares: Histórias e Fontes (séculos XVI-XIX). Rio de Janeiro, Sete Letras/Faperj, 2010 – Horário 16 horas /Local: 10º andar do CFCH, Auditório do Programa de Pós-Graduação em História da UFPE

Quinta-feira, 17/02/2011

Conferência de CARLOS GABRIEL GUIMARÃES (UFF): “A trajetória do negociante, contratador, traficante e Barão de Café João Rodrigues Pereira de Almeida”. Após a conferência haverá uma discussão coordenada pela Professora Suzana Cavani Rosas – Horário: 14 horas / Local: 10º andar do CFCH, Auditório do Programa de Pós-Graduação em História da UFPE

Conferências de ANDRÉ FERTIG (UFSM): A Guarda Nacional e as relações entre o poder central e a Província do Rio Grande do Sul no XIX e CRISTIANO LUÍS CHRISTILLINO (Pós-Doutorando-UFPE): A Lei de Terras de 1850. Após a conferência haverá uma discussão coordenada pelo Professor Marc Jay Hofnagel – Horário 16:00 horas / Local: 10º andar do CFCH, Auditório do Programa de Pós-Graduação em História da UFPE

Segunda-feira, 21/02/2011

Conferência de EDUARDO FRANÇA PAIVA (UFMG): “Qualidades”, “condições” e o crisol mineiro colonial”. Após a conferência haverá uma discussão coordenada pela Professora Tanya Brandão – Horário: 16 horas / Local: 10º andar do CFCH, Auditório do Programa de Pós-Graduação em História da UFPE

Terça-feira, 22/02/2011

Conferência de ADRIANA ROMEIRO (UFMG): Após a conferência haverá uma discussão coordenada pela Professora Marília Ribeiro – Horário: 16 horas / Local: 10º andar do CFCH, Auditório do Programa de Pós-Graduação em História da UFPE

Quarta-feira, 23/02/2011

Conferências de DILENE RAIMUNDO DO NASCIMENTO (Fiocruz) e SARA OLIVEIRA FARIAS (UFBA), seguida de discussão, coordenada pelo Professor Carlos Miranda – Horário: 14 horas / Local: 10º andar do CFCH, Auditório do Programa de Pós-Graduação em História da UFPE

Conferência de DOUGLAS COLE LIBBY (UFMG) seguida de discussão coordenada por Marcus J. M. de Carvalho – Horário 16:00 horas /  Local: 10º andar do CFCH, Sala de aulas do Programa de Pós-Graduação em História da UFPE

Entrevista – Joseph Miller

Fonte: Revista História / Biblioteca Nacional

A História da África no Brasil ainda está para ser feita

Joseph Miller


Presidente da Associação de Estudos Africanos dos Estados Unidos e professor do Departamento de História da Universidade de Virgínia, o historiador Joseph Miller tornou-se um especialista em escravidão e diáspora africana quase acidentalmente. Por sugestão de Jan Vansina, seu orientador, no Centro de Estudos Africanos da Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos, na década de 1960, ele decidiu pesquisar Angola. Segundo Vansina, não haveria dificuldade em compreender e em se fazer entender em português, um idioma fácil. Na verdade, o aprendizado da língua foi um tanto árduo, algo que só dominou após uma temporada no Rio Grande do Sul e outra em Portugal, antes de permanecer oito meses em Angola, pesquisando os costumes locais. O esforço valeu a pena. Até hoje Joseph Miller se confessa fascinado pelo tema devido às constantes revelações de aspectos desconhecidos sobre um continente tradicionalmente esquecido pela história oficial.

Autor de diversos livros sobre História africana, um dos mais conceituados especialistas em tráfico negreiro, Miller prepara um estudo completo sobre a escravidão, desde a época de Roma. Em visita ao Brasil, contou que se interessou pela história colonial do país – e o sistema colonial português – porque precisava entende-los para compreender Angola. No Rio de Janeiro, Joseph Miller conversou com a Revista de História. Da conversa também participaram o embaixador Alberto da Costa e Silva e a pesquisadora Mariza Soares.

RH – O que o levou a se dedicar ao estudo da História da África?
JM – A escolha foi completamente acidental. Eu ia assumir a direção de um grande armazém, que estava na minha família há três gerações, em Cedars Rapid, Iowa, mas não gostei muito. Tinha 25 anos, uma família, mulher, filha e a hipoteca de uma casa enorme para pagar. Precisava de uma profissão que garantisse alguma segurança. Eu gostava de muitas coisas, pouco sabia de História, mas tinha curiosidade a respeito de América Latina, Ásia, Oriente Médio. Acabei me candidatando a uma vaga na Universidade de Wisconsin, onde estava instalado o melhor centro de estudos africanos do mundo, na época. Eu era o único da turma que não conhecia a África, todos os outros haviam trabalhado nos Corpos de Paz ou em projetos missionários, sabiam idiomas africanos, haviam morado na África. Acabei me envolvendo de tal forma com os estudos sobre a África que até hoje, depois de tantos anos, ainda acordo entusiasmado com a expectativa de descobrir aspectos novos deste tema fascinante, que me surpreende diariamente.

RH – Como eram os estudos de Historia da África nos Estados Unidos na época?
JM – O campo era novo ainda. O interesse começou no fim dos anos 50, com a independência de diversos países africanos e também com a entrada da União Soviética na corrida espacial. Com a corrida espacial, o lançamento do Sputnik, o governo americano ficou assustado porque a população não conhecia outros idiomas. É sabido que nós, nos Estados Unidos, não temos grandes habilidades com idiomas estrangeiros. Por isso, o governo criou um fundo para apoiar o estudo das línguas do Terceiro Mundo. Inclusive o português falado no Brasil e nos países africanos, além das línguas da África. Depois, grandes fundações como a Ford instituíram fundos para criar centros de estudo das diferentes regiões do globo: Oriente Médio, América Latina, Ásia, China, Índia e África. Wisconsin tinha um departamento de idiomas e literatura africanas, o que não era comum naquela época e fornecia bolsas para um grande número de alunos, a maior parte em História e Ciência Política. A associação de estudos africanos fora fundada em 1957. A maior parte dos afro-americanos já 200, 300, naquela altura, era de historiadores, professores de Ciência Política, antropólogos, quase a totalidade.

RH- Os movimentos pelos direitos civis marcaram os estudos da África?
JM – No começo, um pouco. No fim dos anos 60, quer dizer, 1968, 1969, o movimento dos direitos civis entrou no assunto. E era uma batalha mesmo, 98% dos universitários eram brancos, tínhamos 10% de alunos negros, era a nossa herança de segregação. E os sentimentos eram intensos. Nos anos 70, a discussão já era sobre questões liberais, mais uma questão de raça, de desigualdade, que continuam até hoje. Nos Estados Unidos, há 30 quase 40 anos, os estudos africanos eram, também, assunto de brancos.

RH – Como o senhor se interessou por Angola e pelo Brasil?
JM – O fundador do programa de estudos africanos em Wisconsin, professor Philip Curtin, mandou que eu procurasse o professor Jan Vansina. Inglês é a primeira língua em Estudos Africanos. Francês, a segunda, português, a terceira. Eu logo falei que pretendia fazer minha tese de mestrado sobre qualquer parte da África Central, porque lá se fala francês. Mas Vansina me sugeriu que eu abordasse Angola, que estudasse o Reino de Caçange. Ele falou que se eu não quisesse aquela história, iria aproveita-la em seu próximo trabalho de campo. Eu concordei, então, temeroso, porque conhecia um pouco de francês, mas não sabia português, nenhuma palavra. Vansina, que era belga, me garantiu que era fácil aprender português. Acabou que tive que estudar mesmo, ganhei uma bolsa de estudos para fazer um curso de oito semanas no Rio Grande do Sul. Estive também em Portugal e, em 1968, passei dez meses em Angola, a maior parte deles no interior, sob vigilância do Exército. O ambiente era muito tenso, por causa da guerra pela independência.

RH– O senhor destaca alguma experiência interessante nesse período em que viveu lá?
JM – Uma vez, cheguei a um povoado, uma aldeia no interior, onde o chefe da guarnição militar havia convocado os líderes da região para me contarem a história deles. Eles não tinham a menor idéia do que eu fazia, que era pesquisa de História Africana. Para esses sobas, usando vestidos e chapéus que simbolizavam o poder, não pode haver história significante dos africanos para esse estrangeiro sem conhecimento nenhum. Comecei a gravar suas histórias. Depois de dois dias, eles ficaram cansados de falar e voltaram para as suas aldeias. Ali por perto, conheci um homem de 40, 50 anos, que era o historiador oficial do reino. E eu disse:”Olha, eu vim estudar o seu povo, você pode me dizer qualquer coisa sobre os Jagas?”. Jagas era um nome que remonta aos princípios do século XVII . Então, ele falava apenas sobre a genealogia – fulano nasceu, fulano nasceu. Passamos algumas semanas, dois meses e, afinal, eu percebi que essas genealogias são a constituição oral deste reino. Quando descobri isso, tudo ficou claro. Estavam a falar em coisas que eu podia entender, mas como metáforas, completamente diferentes das nossas abstrações, porque quando falamos em pessoas estamos nos referindo a elas. Para eles, não, a pessoa representa o grupo, o casamento representa uma aliança, uma ligação entre uma pessoa, ou um homem. E os nomes deles também significam a função que exercem no reino. A própria função tem o nome de uma pessoa desde o século XVII. Assim, José, na realidade, quer dizer o ministro da fazenda, ou quer dizer o cobrador de impostos. Manuel quer dizer general.

RH – Uma concepção de história completamente diferente.
JM – Sim e entender isso foi a descoberta mais importante para mim. Isso não é apenas uma curiosidade, é a maneira deles contarem sua história, que deve ser vista com o mesmo respeito, a mesma seriedade que temos com nossas maneiras de falar, de pensar.

RH – Como o senhor usou essa história contada pelos sobas aos dados do governo português e colonizador?
JM – Procurei verificar e estabelecer a verdade sobre as tradições orais, comparando-as com os documentos portugueses. Descobri que não havia correspondência nenhuma entre as tradições orais e os documentos dos portugueses. Eram mundos completamente diferentes. Povos que se casaram, trocavam mercadorias entre si, lutavam muito com os outros povos, mas tinham experiências completamente separadas das mesmas coisas, dos mesmos lugares, dos mesmos tempos. Esta idéia era a base com a qual eu comecei meu livro sobre o tráfico (Way of Death, que será brevemente traduzido no Brasil com título provisório de Mercadores da Morte).

RH – A História de Angola e sua vinculação com o Brasil são abordadas em seu livro Mercadores da Morte, Como o senhor iniciou seus estudos sobre a história do tráfico?
JM – Tinha começado ar escrever a história do reino de Angola, dos primeiros anos do século XVII até o fim, por volta de 1850, 60, 70. O segundo capítulo seria o ambiente, a política econômica de Angola, o tráfico de escravos. Depois de 10 anos e 800 páginas impressas, afinal, terminei com o segundo capítulo. Ainda tenho que escrever mais seis, sete capítulos. Para entender os Mercadores da Morte, é necessário entender Angola. Para entender Angola, descobri que tinha que entender também o Brasil do século XVIII. Para entender o Brasil, tinha que entender Portugal, o sistema colonial. E depois das 800 páginas, ainda tinha que entender a Inglaterra, mas não escrevi essa parte.

RH – O Senhor pretende agora escrever uma história geral da escravidão?
JM – Sim, já comecei a falar da prática da escravidão desde seus primórdios, há 50 mil anos.

RH – Qual a diferença básica entre a escravidão no mundo clássico e no mundo moderno?
JM – Mundo clássico quer dizer o mundo de Roma e tudo isso. Basicamente, a história da escravatura é uma história das mulheres e de crianças, não dos homens. Estima-se que 75%, 80% das pessoas escravizadas eram mulheres e algumas crianças. Em Roma ou na Grécia clássica, os escravos viviam nas casas dos donos, sem presença nas ruas. Saíam às ruas apenas de passagem. Moravam, viviam dentro do complexo residencial familiar. Não era possível desenvolver a escravidão assim na Europa, na África, nem na Ásia, nem em qualquer outra parte do Velho Mundo, porque havia sempre competição dos donos das terras, da Igreja, das fundações eclesiásticas. A escravidão moderna é produto do desenvolvimento comercial no Atlântico. Os africanos controlavam as terras, enquanto os europeus permaneciam no mar, fazendo o tráfico. Foi um momento em que houve oportunidade de crescimento para a economia comercial, um crescimento maior do que em qualquer outra situação no mundo, incluindo o Oceano Índico. No Atlântico, homens estavam sendo comprados, não apenas mulheres. Os escravos eram comprados a prazo, o que exigia a existência de uma autoridade pública e financeira para tratar legalmente desses créditos. Por isso, do século XVI ao do século XVII, elaboraram a legislação que definiu a escravidão moderna. A escravidão passou a ser objeto do direito comercial, do direito civil e político no império português, na França, na América do Norte. Para pagar as dívidas dessas compras a crédito, tinham que empregar os escravos para produzir açúcar, tabaco, algodão, eventualmente, café. Precisavam de financiamento para custear despesas enormes, de cruzar um oceano inteiro, a metade de um hemisfério. É isso que acontece nas primeiras décadas do capitalismo comercial no Atlântico.

RH – O que as suas pesquisas sobre o tráfico mudaram em relação ás interpretações tradicionais?
JM – Eu queria inserir o tráfico de escravos no Atlântico em contextos históricos maiores: África, Brasil, Portugal, eventualmente, Inglaterra, o que não consegui. E também eu queria traçar os modelos sócio-científicos para a década de 1960. A história do tráfico do Atlântico era a história econômica, e os historiadores tinham que contá-la através dos modelos econômicos. Não abordavam a experiência dos escravizados, nem dos marinheiros ou oficiais que os traziam nos navios negreiros. Nem sequer o dos escravizadores, como se não houvesse gente no processo. Descobri que essas pessoas viviam, funcionavam, trocavam, casavam, agiam em cinco ou seis mundos culturalmente afastados. Como havia o risco de os escravos morrerem, a estratégia de todos os envolvidos nessa longa trilha do centro da África até o Brasil era que os escravos morressem na conta de alguém, do outro. Para evitar prejuízo, o objetivo de todos era passar esse escravo, antes que ele morresse, para o nome de outro. Isso tudo exigia uma estrutura financeira muito complexa, pois tinham que combinar os interesses, passar os escravos de um para outro, para o seguinte até chegar ao dono, no Brasil, que poderia viver no interior, não no litoral. Eu queria abordar isso tudo, mas há poucos registros encontrados até agora. A documentação conhecida é pequena.

RH – Quantos africanos vieram para as Américas, para o Brasil?
JM – É possível fazer uma aproximação muito exata. De acordo com dados levantados pelo professor David Eltis, houve em torno de 37 mil viagens carregando escravos da África às Américas do Norte e do Sul. É quase certo que o número de escravos da África, dos escravizados desembarcados nas Américas seja por volta de 11 milhões. Eles são os sobreviventes de 12.500.000 escravos embarcados na África, entre 1500 e 1869, 1870. Desses 11 ou 12 milhões, 40% vieram para o Brasil. Quase todos eram nascidos na Grande Angola, que começava praticamente no Gabão e ia até o Brunei.

RH – Como é que homens, seres humanos puderam conviver com aquela violência no limite, que marcava o tráfico?
JM – Porque o sentimento de humanidade ainda não existia no Atlântico Sul. Existia um sentimento de grupo, grupo dos brasileiros, dos africanos, da lealdade pessoal, da lealdade à família, à irmandade. São todos grupos isolados. E o futuro do grupo, da família, pode ser família real, pode ser família aristocrática, pode ser família pobre, pode ser família das plantações aqui no Brasil, era continuar a linhagem. Para proteger, para defender a linhagem, os grupos eram capazes até de sacrificar seus próprios membros. Nas épocas de seca em Angola, em períodos de grandes estiagem, as famílias vendiam alguns de seus membros para que os outros pudessem sobreviver e preservar o grupo. Os números do tráfico crescem durante essas secas. Os séculos XVII e XVIII, principalmente, foram época de acumulação capitalista na Europa, de escravos e terras nas Américas. E também acumulação dos meios de produção na África, que eram as pessoas. E também pessoas nas Américas. Eventualmente, meios industriais, técnicas e tecnologia, na Europa, fazem a mesma coisa de maneiras diferentes.

RH – Por que a cachaça, ou a Jeribita, fez tanto sucesso na África?
JM – O baixo custo da produção da Jeribita permitia que ela fosse utilizada por senhores de engenho na compra de escravos africanos. Mas a demanda não surgiu na África. A demanda foi criada pela oferta.

RH- Os africanos abandonam as bebidas tradicionais?
JM – Não, eles nunca abandonaram o Vinho de Palma, a cerveja, eles passaram a beber cachaça também. Isso foi assim também com os que foram levados para os Estados Unidos, que consumiam o conhaque e as bebidas que faziam na África. Os que vieram da região da Alta Guiné também mantiveram suas bebidas nativas. A cachaça tinha a vantagem de ser durável, enquanto o Vinho de Palma é muito perecível. A diferença importante é que o vinho de Palma tinha uma função cultural e a cachaça, não. O vinho era consumido em grupo, enquanto a Jeribita era uma bebida que se tomava sozinho, em segredo. O vinho conseguia conservar a estrutura das culturas, o idioma, as metáforas, os símbolos, as linguagens, as estruturas sociais, as práticas sociais, as estratégias e todo o resto.

RH – Como a história brasileira encara a África?
JM – A História da África no Brasil ainda está para ser feita. Quando estive aqui em setembro do ano passado, constatei que o Brasil tem uma base tão rica, tem talentos tão bons, tem documentação sobre o tráfico, sobre os afro-brasileiros, sobre os escravos no Brasil. É uma base muito importante, muito boa, muito sólida. Existe um conhecimento grande do assunto, porém a História da África mesmo, a História da África como é entendida nos Estados Unidos, Inglaterra, França e na África, ainda está para ser feita aqui, estabelecendo parâmetros diferentes, sem aproximar-se dos princípios convencionais, familiares da História do Brasil, da América, da Europa. Há que se estabelecer um curso independente dessa história dos africanos no Brasil. E tenho impressão de que o Brasil está preparado agora para fazer exatamente isso.

África – uma história rejeitada

Documentário de retrata a diversidade e a riqueza da história africana:

Vídeo: “Impactos Fatais”

Produção da BBC que aborda aspectos da ação do imperialismo britânico sobre a África e a Índia

Coleção História Geral da África

Publicada em oito volumes, a coleção História Geral da África está agora também disponível em português. A edição completa da coleção já foi publicada em árabe, inglês e francês; e sua versão condensada está editada em inglês, francês e em várias outras línguas, incluindo hausa, peul e swahili. Um dos projetos editoriais mais importantes da UNESCO nos últimos trinta anos, a coleção História Geral da África é um grande marco no processo de reconhecimento do patrimônio cultural da África, pois ela permite compreender o desenvolvimento histórico dos povos africanos e sua relação com outras civilizações a partir de uma visão panorâmica, diacrônica e objetiva, obtida de dentro do continente. A coleção foi produzida por mais de 350 especialistas das mais variadas áreas do conhecimento, sob a direção de um Comitê Científico Internacional formado por 39 intelectuais, dos quais dois terços eram africanos.

Download gratuito (somente na versão em português):

Informações Adicionais:

 

Revistas de História

O prof. Marcus Carvalho relacionou algumas revistas que apresentam estudos sobre História da África.

Aqui estão os links:


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